diorama
taxidermia
40 x 29 Ø cm
As mutações das quais nascem os animais que povoam o bestiário em que o artista trabalha pacientemente há alguns anos descendem diretamente daquelas fantasias infantis, mas baseiam-se num estudo prolongado e numa precisão quase científica. Cada um dos animais criados por Corrêa é hipoteticamente possível, o artista mostra a mutação de cada membro, cada órgão, cada minúsculo ossinho ou cartilagem. A transformação não é apenas sugerida, É estudada durante muito tempo antes de ser “concretizada” sobre a tela; é, justamente, científica antes de ser poética. Assim como na metamorfose de Dafne em loureiro, narrada por Ovídio, nenhum detalhe é desprezado, a minúcia da descrição tranquiliza o leitor e o ajuda a aceitar o milagre como autêntico. A sobreposição de ciência e arte, principalmente no que se refere à descrição de plantas e animais, tem uma tradição cuja origem, no Brasil, remonta aos tempos das expedições científicas organizadas pelos reinos europeus para satisfazer sua curiosidade e sua sede de saber (e de riquezas). O papel dos artistas que participavam daquelas expedições não diferia muito do papel dos cientistas: a tarefa de ambos era observar, estudar e reproduzir. Em muitos casos, porém, a fidelidade da reprodução era prejudicada por algum vôo da fantasia. Aparentemente inserido nessa tradição, Walmor Corrêa na realidade opera uma inversão fundamental: em vez de inserir detalhes fantásticos numa representação substancialmente fiel da realidade, convida a um mundo inteiramente imaginário, que só tem em comum com o nosso a inflexibilidade das regras anatômicas.
Jacopo Crivelli Visconti