“Contempla estas montanhas lavadas
E a luz que desce em oblíqua dança.
Tudo chega de um mundo antiquíssimo
Onde encontraremos pedaços desajustados de fotografias: Recortes de pensamentos visuais […]”
O trecho do poema Natureza, de Murilo Mendes (1901-1975), trata de um mundo olhado como enigma. Esse mundo deve ser observado através da atenção às luzes e cores de tal maneira que a matéria que o compõe apareça como testemunha do tempo e daquilo que escapa. Porque algo sempre nos escapa.
As pinturas que Felippe Sabino apresenta na mostra Chemise, formam um convite para adentrar e se aprofundar no mundo que o artista minuciosamente vem observando, selecionando e recriando em um exercício cotidiano. Na ausência de grandes temas, personagens e narrativas há uma forte presença de possibilidades: o expectador pode construir relações, encarar a perda, a solitude, encontrar caminhos e se perder através da imagem que não se revela completamente diante dos nossos olhos. É preciso dar o tempo e a atenção ao momento de contemplar, deixar que a luz dance e que as sensações cheguem.
Lorraine Mendes