Estado Oculto
Há algo oculto no comportamento humano que pouco distingue-se do instinto essencial em animais de sangue frio. AlÉm de todo o nosso conhecido refinamento moral e social que É mantido na superfície e no autocontrole em meio às situações de vida pelas quais passamos eventual e quotidianamente, existe uma camada-matriz do córtex nos programando como responder aos estímulos de sexo, fome, combate e fuga.
De imediato, a reação engatilhada dispara. Na hora do alarme, de se ler no auge da urgência a frase “Em caso de emergência quebre o vidro” É o lado primitivo que nos toma atÉ os ossos. Vem sendo assim desde civilizações da antiguidade atÉ aqui e parece que, assim, vamos seguindo. Há uma governança interior maior do que qualquer orientação ou juízo externo. Em relação ao que nos importa para continuar bem vivos e com posses ou territórios garantidos, a mente e o corpo podem obedecer à cobiça em tudo quanto ela determina que seja feito atÉ que sua sede esteja saciada. Há limites tênues e a tensão deste sentimento-mola não apenas É parte da engrenagem que move o mundo como tambÉm passou a comprimi-lo e esticá-lo conforme políticas de comÉrcio, tráfico de escravos, turismo sexual e tratados de guerra…
Haja vista tanta compressão e expansão, flutuação, pesar e voltas do planeta que o Homo sapiens criou, finas relações de equilíbrio são tecidas como e quando há oportunidade, conforme bons ou maus ventos, conforme a demanda de uma alta qualidade, delicada, sutil e palpável: um bioconcretismo que dá exemplo às pirâmides institucionalizadas pela tradição da adoração aos “Deuses” e sacrifício de “meros mortais”, pois são estruturas sustentáveis.
Frente aos fatos da existência, há gestos imediatos, gestos de reflexão e gestos de arte. Libertar-se do macaco ancestral na relação animal-ser humano É uma ação escultórica diária de grande complexidade mas, com decisão, perfeitamente executável, de modo que se vai encontrando um estado de harmonia íntima daquilo que se É com o que se quer ser. Franklin Cassaro mexe, revira, reinventa formas sólidas, dança com a gravidade, subverte significados, age performaticamente atÉ o último movimento da obra. Tendo na vitrine o tema “Dinheiro, Sexo & Guerra”, talvez o conteúdo revelado seja o próprio interior do expectador, na medida em que se pode avaliar livremente o quanto podemos ser refinados e animalescos na mesma atitude.
Eis uma provocação alegre e divertida, embora seja parte de um questionamento profundamente necessário. O que nos distancia da Época das cavernas? O pensamento racional como primeiro aliado do ser humano que, por ser humano, não dispensa o amálgama emocional em todas as suas camadas atÉ que esse dê as mãos à razão.
Anahi Martins