Jefferson Medeiros | Ventos do norte não movem moinhos | 18 de maio

A força motriz que girou os moinhos no que hoje chamamos Brasil, não
veio do Norte. Aqui estamos, navegamos o século XXI, e os que ainda movem
as engrenagens nessa terra são os herdeiros e herdeiras dos povos do Sul do
mundo. Do Norte, experimentamos o domínio desde a colonização da
modernidade ao imperialismo contemporâneo.
As marcas coloniais permaneceram em nossa sociedade mesmo após a
independência. Essas marcas que atravessam instâncias de nossa existência
como o poder, o saber e o ser, chamamos de colonialidade. A colonialidade nos
submete a padrões generalizantes, suprimindo as diversidades de fazer ciência, de se entender o cosmo, das relações interpessoais, políticas e religiosas. Além de perpetuar violências de classe, raça e gênero, fazendo da nossa autonomia sempre uma obra embargada. A meta é garantir a submissão dos povos.
Para seguirmos livres, precisamos nos despir dessa roupagem que não
cabe em nós. Precisamos questionar as diretrizes que traçam as rotas que os
corpos do sul devem seguir. Todo direcionamento é político, desde as
coordenadas cartográficas à cultura de se fabricar desejos alienantes do
capitalismo neoliberal.
É tempo de inverter coordenadas, virar o mundo de cabeça para baixo e
buscar concepções de vida que deem conta do nosso desejo de viver. É tempo
de desaprender ideias enganosas trazidas pela colonização, de que a vida é um
recurso a ser explorado. A vida é um bem comum e a liberdade é pão para todas
as bocas.
Para caminhar livre, precisamos seguir nosso próprio caminho, jamais nos
guiarmos por referências que nem podemos enxergar. Para o lado de cá da linha do Equador, não é possível ver a Estrela Polar ártica, a Estrela do Norte. Nortear-se daqui é sinônimo de perder-se de seu lugar, de suas raízes, de suas práticas, de suas formas de ser e estar no mundo autonomamente.
Daqui, a nossa referência é o Cruzeiro do Sul, navegamos por essa
constelação. Para vencermos os desafios de nossa existência precisamos nos
fixar em nossas próprias experiências a partir dos trópicos. Como disse D´Olne:
Sulear.